O que estamos fazendo quando oramos? Essa é uma pergunta que me assombra há anos. Escrevi o livro O Pai Nosso justamente
para abordar essa questão, pois acredito que na oração que Cristo nos
ensinou há chaves que abrem portas do nosso entendimento a respeito de
Deus e dos seus propósitos para conosco. Mas este post não é sobre essa
oração específica.
É sobre as orações que já ouvi e fiz, tanto
publicamente quanto na solitude do meu quarto.
A
alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros,
Jesus contou esta parábola: “Dois homens subiram ao templo para orar; um
era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo:
‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões,
corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes
por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. Mas o publicano ficou à
distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito,
dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.” Eu lhes digo
que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus.
Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado. (Lc 18.9-14)
A tônica dessa passagem é simples: há orações que Deus não atende. Ele
ouve todas, em Sua onisciência, mas isso não significa que aquele que
ora receberá o que pediu. Não é toda e qualquer prece feita “em o nome
de Jesus” que Deus aceita ou responde. Algumas chegam a ser óbvias. Nas
palavras do Senhor vemos claramente a arrogância do fariseu. É fácil
crucificá-lo, o difícil é olhar para os nossos erros. E a nossa arrogância? E a minha? Aí pega. Pois nem sempre a vejo, tampouco meus erros. E que orações descabidas são essas? Peguemos alguns exemplos.
Existe a oração dissimulada:
“Senhor, Tu sabes que a única coisa que quero na vida é fazer a Tua
vontade. Aliás, nem vontade própria tenho mais.” Deus não se impressiona
com isso, pois é claro que essas palavras configuram uma mentira, mas
que é bonito é. Pior é que há aqueles que de fato acreditam na própria
mentira.
Existe a oração pregação:
“Senhor, como já falaste, por meio da Tua Palavra, em Mateus seis,
versículos quatro a seis, na versão Almeida Corrigida e Revisada, mas
não atualizada, sei que… primeiro… segundo… terceiro… e, portanto…”. São
muitas as pessoas que usam o ensejo de uma oração pública para
extravasar a sua ambição de serem pregadoras. Já vi isso inúmeras vezes.
É maçante ouvir uma oração do tipo, pois fica óbvio que não é dirigida a
Deus, mas aos homens. Melhor seria nem ter “orado”.
Existe a oração anúncio:
“Senhor, abençoa a reunião de milagres que vamos realizar quinta-feira
que vem, com entrada franca e lanchonete aberta após o culto, que
começará às sete e meia em ponto.” Dispensa comentários.
Há ainda a oração feiticeira.
São orações invocatórias que simplesmente informam Deus exatamente
sobre como deve respondê-las: “Senhor, ajuda o Zé a descer do muro.
Afinal, já namora a Maria faz sete anos. Tu sabes que os dois devem se
casar. Tu sabes que o relógio biológico dela está correndo e que ele já
poderia ter proposto o casamento. Mas, Deus e Pai, ele está protelando.
Até quando, Senhor? Até quando? Mude o coração do Zé para assumir logo
esse compromisso. Todos sabemos que os dois foram feitos um para o
outro.” E por aí vai. Já ouviu orações assim? Eu já. Cansei de ouvir
pessoas instruírem Deus e ainda tentarem manipular as circunstâncias por
meio de uma oração “poderosa”.
Existe a oração presunçosa.
Ela se assemelha muito à oração feiticeira. Mas em vez de dizer ao
Senhor o que fazer, carrega em si mais a presunção de saber qual é a
vontade de Deus: “Senhor, sei que Tu só queres que eu seja feliz e tenha
vida em abundância. Sei que este sofrimento é contra a Tua vontade e
que o Diabo é quem está me fazendo mal. Sei que Tu não queres isto.”
Sim, a oração presunçosa é encharcada de certezas e citações bíblicas
fora de contexto.
Existe a oração de poder pessoal,
fruto da doutrina da Confissão Positiva: “Senhor, eu tomo posse agora.
Eu declaro. Eu determino. Eu afirmo.” Essa você já entendeu, tenho
certeza.
Ainda existe a oração fofoca:
“Senhor, toca no coração do marido da Hermínia. Tu sabes que ele anda
longe dos teus caminhos. Sabemos, Senhor, que ele está em pecado. Já
houve quem o visse na praça falando com a sirigaita da farmácia, cujo
nome nem convém mencionar, Senhor. Ô, misericórdia! Ô, mistério! E
sabemos como ele está levando a nossa querida irmã a exagerar no seu
licor de fim de tarde. É uma irmã querida, mas que está caindo em pecado
também. Ajuda, Pai. Sabemos que a Tua igreja não merece mais um
escândalo desses – escândalo como o do pastor auxiliar de três anos
atrás, mas que a maioria nem sabe bem o que aconteceu e que o levou a
repentinamente pedir afastamento e a se mudar para o Acre.” Essa
geralmente é reservada para reuniões especiais entre pessoas que estão
mais “em comunhão”.
Deus não responde essas orações. Abomina algumas delas. E há muitas
outras formas erradas de orar, citei apenas essas para mostrar que, como
intercessores, podemos ser absurdamente carnais e acabar pecando contra
o Senhor.
Para orar, temos que partir de um pressuposto fundamental: Deus sabe
tudo. Ele sabe quantos fios de cabelo temos na cabeça. Ele sabe quantos
grãos de areia há no mundo. Ele não precisa que nós o lembremos do que
quer que seja. Por outro lado, Paulo disse: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus.” (Fl 4.6). Então, podemos pedir. Podemos, de coração aberto, pedir.
Por outro lado, Tiago nos avisou, quando disse:
De
onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões
que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, e não as têm;
matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a
lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não
recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres.
Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com
Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. Ou vocês
acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez
habitar em nós tem fortes ciúmes? Mas ele nos concede graça maior. Por
isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça
aos humildes”. Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele
fugirá de vocês. (Tg 4.1-8)
O que as orações absurdas têm em comum? Voltemos à oração do fariseu para achar a resposta: orgulho.
Tiago nos admoesta a orar com modéstia, com humildade. Quando chego
perante Deus, tenho que fazê-lo com temor. Ele sabe tudo, até as
palavras que vão sair da minha boca. Sou absolutamente transparente para
o Senhor. Só esse fato já me desmonta, me quebranta. Não há como
enganar Deus. Não há lugar para pretensão. Não há lugar para
manipulação. Ao orar, estou falando com quem me criou, quem conhece o
meu ser, por dentro e por fora. E isso… ah, isso muda tudo.
Na paz,
+W
Via: Despertar de um avivamento
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